segunda-feira, 21 de maio de 2012

Um presente pro papai : capitulo 39

Quando Luisa chegou em casa encontrou a filha jogada no sofá em completo desespero enquanto
segurava o telefone na mão. “A levaram”, dizia entre soluços. “Levaram minha Marcela!”.Luisa
amparou a filha abraçando-a com força e chorando junto. Colocou sua cabeça em seu colo e
afagou-lhe os cabelos tentando fazê-la se acalmar.
— Liguei na casa de Arthur. Mas Mellisa disse que ele está viajando. Mãe! O que eu vou
fazer? — ela berrou levantando-se do sofá. — Eu não posso fazer nada! Eu não consigo sem ele
mãe... Em todos os sentidos... Eu não consigo! Sou fraca demais, covarde demais!
Ei, estes olhos tristes O que está passando em sua mente? Não olhe tão pra baixo, dê à isso um
tempo...
— Lua! Pare de falar assim! Você não é fraca muito menos covarde! Você aceitou aquela criança
mesmo com todos os defeitos e a amou sem medo! Você é a pessoa mais corajosa que eu conheço
filha e tenho orgulho de você! Jamais, jamais repita isso novamente - Lua fungou e deu às
costas a mãe enfiando-se no quarto.
Ficou deitada na cama, completamente impotente por horas até sua porta abrir-se em um rompante.
 
— O que você pensa que está fazendo deitada aí? — a voz não era de sua mãe. Uma pontinha de
esperança iluminou seu coração ao escutá-la. — É assim que você pretende lutar por ela?
Chorando? Sem mexer nenhum músculo?
Ela se virou ainda deitada e olhou para Arthur parado ali em sua frente, tão nervoso
quando ela.
— Do que está falando? Eles são os pais... Eu não posso lutar contra isso.
Você não tem que ser tão dura com você mesma. Eu sei que o mundo pode ser um lugar brutal. Mas
por favor, não o deixe levar o seu sorriso embora...
— Não fale isso. Você a ama. Canalize esse amor para isso! Para ter forças para lutar por ela.
Eu estou aqui Lua... — Arthur aproximou-se dela sentando-se na cama e afagando-lhe a face
— Estou aqui com você e vou lutar ao seu lado. Você não precisa carregar tudo em suas costas.
Não deixá-la sozinha.
— E eu também não! — Julia entrou correndo pelo quarto e pulou na cama abraçando Lua — Papai
disse que somos uma família e uma família é como um time. Não é papai?
Lua o olhou, emocionada, e um sorriso brincou em seus lábios. Arthur sorriu e pegou em
uma mão de Lua e na outra a mão de Julia.
— Sim querida. Somos uma família. E o que é que você aprendeu naquele desenho? O que significa
Ohana?
— Ohana quer dizer família. Família quer dizer jamais abandonar. — Julia soltou uma risadinha
e envolveu os bracinhos em volta da cintura de Lua que a abraçou com carinho.
— Obrigada. — Lua murmurou para logo depois estar sendo beijada por Arthur.

Algumas vezes vai ficar pior antes de ficar melhor, e levas muito para ser corajoso.
Algumas vezes sentes que vai machucar para sempre.
Mas quando todas as luzes estão prontas, você desaba...
Porque quando o céu está mais escuro você pode ver as estrelas.
Porque quando você cai duramente você percebe o quão forte você é...
Passei a semana inteira em função de me encontrar com meu advogado para resolvermos as coisas
quanto a guarda de Marcela.Lua ficava lá em casa com Julia para se distrair, era difícil
alguém que não fosse minha filha arrancar um sorriso daquele rosto triste.
A falta de Marcela havia a derrubado de uma forma brutal, e eu sabia que apenas para se levantar,
para ela era um verdadeiro sacrifício. No entanto, Júlio, nosso advogado estava esperançoso.
Como Lua havia cuidado de Marcela desde o nascimento ela tinha seus direitos.
O grande problema era o fato de ela não ser casada e não possuir uma boa renda financeira para
os tratamentos que a menina precisava em função de sua doença.
— CASAR? — Lua berrou assim que fiz a proposta.
— Lu, é uma das maneiras de a conseguirmos de volta. Você ser solteira complica as coisas.
— Eu sei Thur, mas é que... É muito cedo. — ela mexeu, inquieta, em seus cabelos e voltou a me
olhar, deparando-se com a confusão em meu rosto — Não! Não Thur... Não é isso! É claro que eu
quero me casar com você, mas é tão...
— Repentino. — conclui pegando-a pela mão e a colocando no sofá ao meu lado. — Eu sei amor, mas
apenas uniremos o útil ao agradável. Não temos tempo para uma cerimônia! Precisamos apenas do
civil, mas prometo que quando tudo se resolver nos casaremos como mandam as tradições. — ela
sorriu suspirando em seguida e concordou com a cabeça.

— Quando? — perguntou.
— Amanhã. 

— Ai Lua... Você está tão linda! — Julia disse ao entrar no quarto onde eu me trocava.
Melissa fizera questão de preparar uma pequena cerimônia em uma pequena capela próxima a casa
de campo que possuía. Presenteou-me com um vestido que ela dizia ser simples, mas que para mim
era o vestido mais lindo que já vira. Na cerimônia só estariam presentes os pais de Arthur
e minha mãe, bom, para mim era mais do que o suficiente.
— Vamos? — Melissa chamou abrindo a porta. — Querida, você está tão linda! Sei que é uma
cerimônia pequena, mas, estará linda e inesquecível. Prometo.
— Sei que sim. — falei tirando a franja dos olhos.
Em menos de cinco minutos já estávamos em frente a capela. O lugar era pequeno, porém era
lindo. Parecia um daqueles pequenos chalés de contos de fadas. Era rodeado por flores e a grama
era incrivelmente verde.Marcela ficaria encantada com aquele lugar... Um pequeno desespero me
bateu quando pensei em meu bebê... Em como ela estaria sendo tratada. Será que estava bem? Será
que a estavam alimentando direito? Aquilo não me deixava dormir a noite.
Mas aquele dia era por ela e por ela eu seria forte e o aproveitaria. Porque quando voltássemos
para casa nós a conseguiríamos para sempre. E então minha família estaria verdadeiramente
completa.
Entrei sozinha na capela, atravessando pelo pequeno corredor atrás de Julia que carregava as
alianças

Arthur estava vestido em um terno, parado ao lado do altar. Estendeu-me a mão quando subi
os degraus e beijou-a delicadamente. Tudo aconteceu muito rápido... Não queríamos nos estender
na cerimônia, o importante naquele momento era realmente assinarmos os papeis. Mas fora
impossível não me deixar emocionar no momento em que dissemos sim. Porque apesar das dadas
circunstancias eu o amava e ele me amava e aquele momento era único e inigualável.
— Eu te amo. — ele sussurrou em meu ouvido.

Minhas mãos tremiam de uma maneira absurda.Arthur tentava segurá-las, mas eram movimentos
involuntários, causados pela angustia enorme na qual eu me encontrava. Estávamos frente a frente
com Cláudio, Louise e seu advogado esperando que o juiz chegasse.
— Calma Lua. — Arthur sussurrou tentando me tranqüilizar. Mas era impossível.
— Aqui estamos! — um senhor alto de cabelos e barba branca entrou na sala onde nos encontrávamos.
Sempre havia imagino os julgamentos como nos filmes, naquela sala enorme com um lugar assustador
onde a testemunha tinha de se sentar. No final estávamos em uma pequena sala, todos na mesma
mesa para que o juiz julgasse com quem Marcela ficaria.
Naquela primeira sessão o juiz apenas ouviu ambas as partes, explicou-nos os direitos que
Cláudio e Louise tinham por serem os pais biológicos. No entanto, não falamos nada em frente a
eles. O juiz marcara um recesso curto e dentro de três dias estaríamos de volta para uma
resposta final. Nosso advogado era ótimo e estava realmente otimista, mas algo apertava meu
coração.
— Louise? — chamei-a quando já saiamos da sala. Ela se virou sem realmente me encarar — Como
está Marcela? — meu tom de voz saíra frio no primeiro momento, mas ao falar em meu bebê minha voz
vacilou.
— Está bem. — Louise respondeu de maneira seca e virou-se dando a mão para o marido e caminhando
para o carro.
— Ela não está bem. — murmurei ao vê-los entrarem no carro.
Arthur envolveu um braço em torno de minha cintura e deixe minha cabeça tombar em seu peito.

— Onde está a Ju? — perguntei ao chegarmos em casa e vê-la vazia.
Larguei minha bolsa em cima da bancada e me encostei ali mesmo fechando os olhos e massageando
as têmporas.
— Está na casa da minha mãe. Com ela aqui você não iria conseguir relaxar. Você está bem amor?
ele perguntou rodeando minha cintura. Balancei a cabeça e apoiei minha testa em seu peito.
— Acho que minha cabeça vai explodir. Não pára de doer. Sempre tenho enxaquecas quando fico
nervosa. Ás vezes a minha visão fica turva... — levantei a cabeça tentando olhá-lo — Como agora.
Estou vendo três de você amor. — sorri um pouco ao escutá-lo rir baixinho e voltei a
encostar-me em seu peito.
— Vem, vou te levar para descansar Lu.
Sem que eu esperasse ele me pegou no colo. Envolvi meus braços em torno de seu pescoço e fechei
os olhos enquanto subíamos as escadas.Arthur me colocou sobre a cama e tirou minhas botas.
Encolhi-me feito uma bola ainda alisando as têmporas. Odiava ter enxaquecas. E sabia que ela
demoraria a passar.
— Vou pegar um remédio. — ele disse depois de me cobrir com um lençol.
Ele voltou com um comprimido em uma mão, um copo com água em outra e pendurada no pulso uma
toalha. Antes de vir até mim ele fechou as cortinas, o que foi bom pois a luz intensa que
entrava só fazia tudo piorar.
— Pra que a toalha? — perguntei sentando-me e engolindo o comprimido.
— Compressa quente sob os olhos ajuda.

Arthur ligou o ferro em cima da cama e passou sob a toalha. Fez-me deitar e colocou-a sob
meus olhos para logo depois deitar-se comigo. Encolhi-me em seus braços segurando a compressa e
senti suas mãos massagearem minha cabeça.
— Acha que vai dar tudo certo? Acha que Marcela poderá vir para casa conosco? — sussurrei.
— Estou certo que sim Lu. Mas você precisa dormir pra essa dor passar. Ok?
— Só vai passar quando ela estiver aqui... — sussurrei antes de fechar os olhos e buscar pela
inconsciência.

Nobody said it was easy...






Eu ainda estava meio dopada pelo analgésico no dia seguinte. Podia ouvir vozes lá embaixo, uma
delas era a de Julia e outra a de minha mãe. Muito baixo eu escutava Arthur murmurar para
que Ju ficasse quieta. Espreguicei-me e puxei o celular em cima da cabeceira. Marcava quatro
horas da tarde! Eu havia praticamente desmaiado!
Sentei-me ajeitando os cabelos e procurei por um par de chinelos dentro das caixas que eu ainda
não havia desfeito ao me mudar para a casa de Arthur
. Entrei no banheiro e lavei o rosto
sem prestar muita atenção nos murmúrios lá embaixo até que um choro fino chamou minha atenção.
Desci as escadas devagar com o coração pulando dentro do peito. Eu estava ficando louca...
— Ah olha só quem acordou! — minha mãe disse ao me ver entrar na sala.
— Q-quem está chorando? — gaguejei.
— Filha... Vá até a cozinha. — eu gelei com o olhar de minha mãe. Gelei com som do chorinho fino
que vinha da cozinha. — Anda Lua, vá até a cozinha! — ela repetiu sorrindo ao ver que eu não
havia me mexido nem um centímetro a mais.
Caminhei muito devagar até lá e senti as lágrimas vindo a tona quando vi Marcela sentada sob um
cadeirão enquanto Julia a lambuzava com a papinha.Arthur abriu um largo sorriso ao me ver
e eu sorri de volta rapidamente para voltar os olhos a minha pequena garotinha sentada ali, tão
pertinho de mim. Queria correr até lá e esmagar aquelas bochechas, mas eu simplesmente
não conseguia me mexer...

Pov Arthur
Deixamos Lua sozinha com Marcela. Levamos Luisa para casa e ficamos um pouco por lá.
Ao entrarmos em casa Julia abriu um largo sorriso ao escutar a voz doce de Lua a cantar
vindo da cozinha. Ela correu até lá, mas a segurei pelos ombros ao chegarmos à porta.
Baby don't you cry, gonna make a pie... Gonna make a pie with a heart in the middle...
Lua estava com um vestido amarelo claro com um avental branco por cima. Os cabelos presos em
um coque mal feito no alto da cabeça e Marcela estava aninhada em seu colo apoiada no canguru de
Julia que eu havia encontrado em uma caixa. Mesmo com a menina ali em seu colo,Lua preparava
algo.Julia começou a murmurar – tentar murmurar, já que não conhecia a música – a canção que
saia dos lábios de Lua fazendo com que ela ouvisse vira-se para trás. Seu rosto, assim como as
mãozinhas de Marcela, estava sujo de farinha. Ela sorriu travessa e chamou Julia com a mão para
ir até ela.
— Quer nos ajudar a fazer uma torta? — Lua perguntou a ela que tratou de logo abrir aquele
enorme e lindo sorriso.
— Quero!
Caminhei até lá e coloquei uma cadeira para que Julia subisse.Lua colocou a massa em suas
mãozinhas que logo trataram de uma forma desajeitada ajeitá-la dentro da forma. Rodeei a
cintura de Lua com meus braços e repentinamente senti Marcela segurar meu dedo enquanto
brincava com ele. Era impossível não apegar-se aquela criança. O sentimento que começava a
nutrir-se dentro de mim agora era de pai. Não a queria somente para a felicidade de Lua...
Queria pela nossa. Por mim, por ela e por Julia.






2 comentários: